Tema: MÉTODO DE PESQUISA EM CIÊNCIAS SOCIAIS EM DURKHEIM
Objetivo: Introduzir as bases do conhecimento científico para prosseguir com os fundamentos em Durkheim.
Metodologia: Seminário
seguido de debate mediado pela docente e por uma mestranda
Recurso: Datashow
Avaliação: Posicionamento
das estudantes em relação ao conteúdo, metodologia e referências.
Karl Marx (Alemanha, 1818 –
Inglaterra, 1883). Meados do século XIX, influência forte em política e economia.
Friedrich Engels (Alemanha, 1820- Inglaterra, 1895)
Émile Durkheim
(França, 1858 – França, 1917)
Fim do
século XIX, influência na fundação científica da sociologia.
Max Weber
(Alemanha, 1864 – Alemanha, 1920). Início do século XX, influência na
sociologia compreensiva e análise da modernidade
Antonio
Gramsci (Itália, 1891 – Itália, 1937)
Émile Durkheim viveu de 1858 a 1917. Nasceu em
Épinal, região de Lorena, na França, 15 de abril de 1858. Não seguiu o caminho traçado
pela família judia com pai e avô rabinos. Implementou a sociologia na academia,
criou a teoria da coesão social, as regras do método sociológico (positivista).
Durkheim estudou no Colégio d’Epinal e no Liceu de Paris e na Escola
Normal Superior de Paris. Lecionou em diversos liceus provinciais franceses.
Entre 1885 e 1886, Durkheim realizou uma viagem de estudo na Alemanha,
especializando-se em Sociologia. Dentro da Sociologia educacional filiou-se à
corrente denominada Pedagogia Social. Foi fortemente influenciado pelos métodos
de psicologia experimental de Wilhelm Wundt.
Em 1887, Durkheim foi nomeado professor da primeira cadeira de Ciências
Sociais, associada à educação, na Universidade de Bordeaux. Em 1896 fundou a revista
“L’Année Sociologique”, quando reuniu um eminente grupo de estudiosos. Em 1902,
foi convidado para lecionar Sociologia e Pedagogia na Sorbonne, onde permaneceu
até sua morte.”
Foi seguidor de Comte e o superou, pois tinha uma visão ampliada de
sociedade: sociedades tradicionais mecânicas (primitivas) e sociedade orgânica
ou industrial (capitalismo).
Enquanto Comte defendia o eurocentrismo, Durkheim dialoga com a
antropologia e a história Escola dos Annales que foi um movimento historiográfico
francês iniciado em 1929 pelos historiadores Marc Bloch e Lucien Febvre, que
propôs uma renovação radical da escrita da história, abandonando o foco em
acontecimentos e eventos para priorizar a análise dos processos de longa duração,
as mentalidades, e o diálogo com as ciências sociais.
Para Durkheim, fato social é a matéria prima da sociologia.
O fato social requer rigorosa metodologia para estuda-lo, deve ser
estudado como coisa, externo aos indivíduos, não é estudado numa perspectiva
subjetiva, é objetivo, análise desprovida de valores subjetivos, não ocorre por
iniciativa individual, suas causas são sociais externas às vontades individuais,
não tem explicação psicológica, explicações sociológicas é externa ao observador,
o sociólogo deve fazer uma observação externa à sociedade, isenta de opiniões.
Comte parte do pressuposto de que a sociedade europeia é um modelo a ser
atingido.
Durkheim propõem: separar, analisar, explicar, comparar. Para ele, a sociedade não é apenas a soma de
indivíduos. O principal fato social são as instituições sociais. Todas as
instituições são coletivas e coercitiva, tem regras que não pode ser violada,
são conservadoras, quem rompe as ordens podem ser punidos. A formação da
sociedade
As principais obras de Émile
Durkheim são:
1)
Da Divisão do Trabalho Social. Conclusão: 1893. Publicação:
1893
2)
As Regras do Método Sociológico. Conclusão: 1894. Publicação:
1895
3)
O Suicídio: Um Estudo de Sociologia. Conclusão: 1896.
Publicação: 1897
4)
As Formas Elementares da Vida Religiosa. Conclusão:
1911. Publicação: 1912
5)
A Educação e a Sociologia (póstuma). Conclusão:
1902-1911 (conferências na Sorbonne). Publicação: 1922
6)
A Educação Moral (póstuma). Conclusão:
1902-1903 (curso na Sorbonne). Publicação: 1925
7)
Sociologia e Filosofia (póstuma). Conclusão:
1890-1915 (ensaios e conferências em diferentes períodos). Publicação: 1924 (em
francês) / 1929 (traduções e edições posteriores)
Algumas obras póstumas, como A Educação e a Sociologia, A
Educação Moral e Sociologia e Filosofia, não tiveram uma “conclusão”
em um único ano, porque foram compilações de cursos e ensaios publicados após a
morte de Durkheim (1917). Por isso, marquei o período em que foram efetivamente
elaborados.
Obra
DA DIVISÃO DO TRABALHO SOCIAL de 1893
Nesta obra, Durkheim
analisa as funções sociais do trabalho e a especialização do trabalho. A obra
consta de 3 livros e diversos capítulos.
A divisão do trabalho
propicia a solidariedade: mecânica ou orgânica.
Na solidariedade mecânica, os indivíduos se
organizam no exercício de tarefas semelhantes, compartilhando preferências e
até mesmo uma consciência coletiva relativamente homogênea. Nesta sociedade em
específico, predomina o grupo sobre o indivíduo (o todo é mais importante que a
parte), manifestando-se na forma da família, da Igreja e do Estado. O Direito,
por sua vez, acaba por se caracterizar como repressivo, baseado na tradição e
nos bons costumes, à medida que os crimes reconhecidos pelo ordenamento são
entendidos numa relação vertical, do indivíduo contra a sociedade (da parte
contra o todo). A solidariedade mecânica se vê predominantemente em sociedades
pré-capitalistas (tidas como primitivas), e os indivíduos, em cujo
trabalho possuem uma maior atuação nos diferentes ciclos de produção
de um bem, mostram-se mais autônomos em relação aos outros, se comparados aos
indivíduos da sociedade de solidariedade orgânica.
Solidariedade
orgânica ocorre em sociedades complexas com a socialização que não ocorre por semelhança
entre indivíduos, mas pela interdependência, já que agora suas atividades são
separadas em partes de um processo produtivo – um precisa do outro para obter
todos os bens finais necessários para sua vida.
Em relação à criminalidade,
os crimes são agora vistos não mais como uma agressão à sociedade, mas numa
relação horizontal: o crime é cometido entre os indivíduos (a parte contra a
parte); não é mais contra o Estado ou a sociedade, de forma objetiva, mas
contra o indivíduo, a partir de uma noção progressiva de direitos individuais e
subjetivos. Não é mais suficiente o simples caráter punitivo do direito penal:
é necessária uma restituição, uma reparação de danos – a justiça não é mais
simplesmente a retribuição da pena, mas a obrigação de restabelecer o prejuízo
causado, na medida do possível.
Obra
AS REGRAS DO MÉTODO SOCIOLÓGICO, publicação 1895
Em 1895, Émile
Durkheim publicou sua obra fundamental, “As Regras do Método Sociológico”, que
constitui uma síntese da Sociologia como uma nova ciência social. Nele,
Durkheim delimita o campo da nova ciência e propõe uma metodologia de estudo,
condição indispensável ao estabelecimento da legitimidade de qualquer ciência.
Para ele, o
objetivo do estudo da Sociologia não pode ser baseado em uma soma de indivíduos
e sim em um fato social. Dentro de sua perspectiva, os fatos sociais devem ser
considerados como “coisas”, com existência própria, exteriores às consciências
individuais.
É necessário
respeitar e aplicar um método científico, aproximado, dentro do possível, das
outras ciências exatas. Devendo-se evitar preconceitos e julgamentos
subjetivos.
Para Durkheim
a questão da ordem social foi uma preocupação constante. De forma sistemática
ocupou-se de como estabelecer o objeto
de estudo da Sociologia assim como seu método de investigação. Também foi
através de Durkheim que a Sociologia penetrou a Universidade, conferindo a esta
disciplina seu caráter acadêmico.
Sua obra foi
elaborada num período de constantes transformações socioeconômicas, que
causavam desemprego e miséria à população de trabalhadores, provocando lutas
entre as classes, com o proletariado passando a utilizar a greve como meio de
enfrentamento à burguesia, fundando sindicatos. Ao mesmo tempo, o período de
transição do século XIX para o atual, é marcado pelo aparecimento da
eletricidade e do petróleo, isso de certo modo, criou um clima de otimismo e
esperança em torno do progresso econômico.
Nesse sentido,
Durkheim tinha uma visão positiva da nascente
sociedade
industrial. Considerava que o crescimento da divisão social do trabalho poderia
possibilitar, ao invés de conflitos sociais, um sensível aumento da
solidariedade entre os homens: “
Tendo em vista
que ela aumenta simultaneamente a força produtiva e a habilidade do
trabalhador, ela é a condição necessária de desenvolvimento intelectual e
material das sociedades; ela é a fonte da civilização” (Durkheim, 1978, p. 23).
De acordo com
Durkheim se cada membro da sociedade tem uma atividade profissional mais
especializada, passa a depender cada vez mais do outro. Isso cria a
solidariedade.
Para Durkheim,
a crise que estava ocorrendo com as transformações socioeconômicas era devido à
ausência de regras morais que pudessem guiar o comportamento dos indivíduos.
Isso dificultava o bom funcionamento da sociedade, fazendo com que está
mergulhada em um estado de anomia, isto é, uma demonstração contundente que a
sociedade se encontrava doente. Ele exemplifica isso com o frequente aumento de
suicídios que ocorriam nas grandes metrópoles europeias como Paris. Para ele, o
suicídio era um bom indício de que a sociedade se encontrava incapaz de exercer
controle sobre o comportamento dos indivíduos.
Segundo
Stephen Warner, na sociedade moderna, industrial e urbana analisada por Durkheim havia dois
tipos de suicídios crescentes: o egoísta e o anômico. O egoísmo é um estado de
solidariedade insuficiente no qual o indivíduo se vê demasiadamente
abandonado às suas próprias forças, tendo
poucas fontes socialmente estruturadas de apoio e não tem mais sentido de
responsabilidade consigo mesmo.
É nas famílias
pequenas que está o maior índice de suicídios egoístas porque esta encontra-se
pouco relacionada com a sociedade. Pois a vida social quando está centra da em
torno de uma grande família ou a uma comunidade religiosa possui fortes
impedimentos para os exageros individuais. Estes sentem-se mais recompensados
com os benefícios que destas instituições podem tirar.
Disposto então
a restabelecer a “saúde” da vida social, Durkheim insistia que era necessário
criar hábitos e comportamentos no homem moderno, visando o bom funcionamento da
mesma. Assim, tinha fundamental importância incentivar a moderação dos
interesses econômicos, enfatizar a noção de disciplina e dever, assim como
difundir ao culto à sociedade, às suas leis e à hierarquia existentes (MARTINS,
1986: 48).
Nessa
perspectiva, a Sociologia tem por função detectar e buscar soluções para os
problemas sociais, restaurando a normalidade como uma técnica de controle
social. Entretanto, à Sociologia era ainda necessário um método e objeto
específicos de estudo, pois nenhuma ciência se constitui sem esses dois
elementos básicos de atuação.
Assim, no
livro “As regras do método sociológico”, que é objeto desta resenha, Durkheim
concentra seus esforços no estabelecimento do objeto sociológico e no modo de
agir do investigador ao fazer a pesquisa.
Preocupado em
estabelecer um objeto de estudo e um método, Durkheim dedicou-se a esta questão
salientando que nenhuma ciência poderia
ser considerada como tal, se não tivesse uma área própria de investigação. A
Sociologia deveria se ocupar de um conjunto de fenômenos que difeririam das
áreas de estudo de outras disciplinas como a Psicologia e a Biologia. Nesse
sentido, Durkheim vai estabelecer precisamente o objeto de investigação da
Sociologia.
Ele inicia
pois pela fixação do objeto de observação da Sociologia, definindo e
caracterizando o que chama de fatos sociais.
Obra
O SUICÍDIO: UM ESTUDO DE SOCIOLOGIA, publicação 1897
O suicídio é, segundo Durkheim, “todo o caso de morte que
resulta, direta ou indiretamente, de um ato, positivo ou negativo, executado
pela própria vítima, e que ela sabia que deveria produzir esse resultado”.
Conforme o sociólogo, cada sociedade está predisposta a fornecer um contingente
determinado de mortes voluntárias, e o que interessa à sociologia sobre o
suicídio é a análise de todo o processo social, dos fatores sociais que agem
não sobre os indivíduos isolados, mas sobre o grupo, sobre o conjunto da
sociedade. Cada sociedade possui, a cada momento da sua história, uma atitude
definida em relação ao suicídio.
Há três tipos de suicídio, segundo a etimologia de Durkheim, a saber:
1.
Suicídio Egoísta: é aquele em
que o ego individual se afirma demasiadamente face ao ego social, ou seja, há
uma individualização desmesurada. As relações entre os indivíduos e a sociedade
se afrouxam fazendo com que o indivíduo não veja mais sentido na vida, não
tenha mais razão para viver;
2.
Suicídio Altruísta: é aquele no
qual o indivíduo sente-se no dever de fazê-lo para se desembaraçar de uma vida
insuportável. É aquele em que o ego não o pertence, confunde-se com outra coisa
que se situa fora de si mesmo, isto é, em um dos grupos a que o indivíduo
pertence. Temos como exemplo os kamikazes japoneses, os muçulmanos que
colidiram com o World Trade Center em Nova Iorque, em 2001, etc.;
3.
Suicídio Anômico: é aquele que
ocorre em uma situação de anomia social,
ou seja, quando há ausência de regras na sociedade, gerando o caos, fazendo com
que a normalidade social não seja mantida. Em uma situação de crise econômica,
por exemplo, na qual há uma completa desregulação das regras normais da
sociedade, certos indivíduos ficam em uma situação inferior à que ocupavam
anteriormente. Assim, há uma perda brusca de riquezas e poder, fazendo com que,
por isso mesmo, os índices desse tipo de suicídio aumentem. É importante
ressaltar que as taxas de suicídio anômico são maiores em países ricos, pois os
pobres conseguem lidar melhor com as situações de anomia social.
Obra
AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELIGIOSA, publicação 1912
Sobre os fenômenos religiosos, Durkheim escreveu uma de suas obras mais
significativas, “As Formas Elementares da Vida Religiosa” (1912), baseada em
diversas observações antropológicas, buscando mostrar as origens sociais e
cerimoniais, como também as bases da religião, especialmente do totemismo.
Afirmou que não existem religiões falsas, que todas são essencialmente
sociais. Definiu religião como “Um sistema universal de crenças e práticas
relativas às coisas sagradas”, que unem os indivíduos que dela compartilham em
uma única comunidade moral, denominada igreja.
Durkheim tem um interesse pela religião porque ela articula rituais e
símbolos que têm o efeito de criar entre indivíduos afinidades sentimentais que
constituem a base de classificações e representações coletivas. As cerimônias
religiosas cumprem um papel importante ao colocarem a coletividade em movimento
para sua celebração: elas aproximam os indivíduos, multiplicam os contatos
entre eles, torna-os mais íntimos e por isso mesmo, o conteúdo das consciências
muda.
Ao tomar como objeto a religião, Durkheim tenta estabelecer que ela não
suponha necessariamente a crença num Deus transcendente. Ela é antes de tudo um
“sistema de crenças e de práticas”. A religião é vista como um fenômeno
coletivo, onde ele procura mostrar de forma concludente que não pode haver
crenças morais coletivas que não sejam dotadas de um caráter sagrado. Sua
existência baseia-se numa distinção essencial entre fenômenos sagrados e
profanos. É um conjunto de práticas e representações que vemos em ação tanto
nas sociedades modernas quanto nas sociedades primitivas. Portanto, sua
sociologia da religião está referida a uma teoria do conhecimento e à questão
da coesão social.
Para Durkheim, a racionalidade prática jamais pode ser o fundamento da
orientação da ação social e muito menos de qualquer forma de sociabilidade.
Para ele, a racionalidade humana está assentada sobre bases emocionais, e,
portanto, não racionais, as quais fornecem os elementos que lhe precedem
logicamente operar, quais sejam: uma cosmologia e uma solidariedade
pré-contratual.
Na visão cosmológica de Durkheim, a religião implica a ideia de que a
sociedade é um todo organicamente integrado no qual se encontram distribuídas,
classificadas e hierarquizadas as pessoas e os objetos o que lhes permite
prover as experiências individuais de categorias e conceitos, permitindo-lhes
transcender as sensações imediatas e amorfas que lhes são próprias. O elemento
da solidariedade pré-contratual, segundo Durkheim é a confiança que as pessoas
precisam ter umas nas outras para poderem estabelecer relações contratuais; é o
aval que as encoraja a buscar o ajuste de seus interesses. Assim, para
Durkheim, estes resultam de sentimentos compartilhados e não de bases
cognitivas.
Durkheim, ao se opor a racionalidade prática de Marx e acentuar os
aspectos emocionais, reporta-se às representações coletivas, essências de
energias de origem sagradas. Chama estes de “totens”, cuja representação é
geralmente considerada mais sagrada que o próprio totem em si. O totem
simboliza simultaneamente a energia sagrada e a identidade do grupo clânico.
Neste contexto, Durkheim se pergunta: “Se o totem simboliza
simultaneamente o deus e a sociedade, não será porque o deus e a sociedade são
uma e a mesma coisa?”
Segundo Giddens (1990), essa relação que Durkheim estabelece aqui entre a
sociedade e o sagrado não pode ser mal interpretada. Ele não afirma que “a
religião cria a sociedade”, porém ele defende que a religião é a expressão da
autocriação, da evolução autônoma, da sociedade humana. Neste sentido, não
seria uma teoria idealista, mas antes da obediência ao princípio metodológico
que diz que os fatos sociais têm de ser explicados em termos de outros fatos
sociais.
Na compreensão de Durkheim os seres animados ou inanimados são antes de
qualquer coisa sagrados ou profanos. O sagrado é todo o ser cuja aproximação
requer preparação e cuidados especiais, o profano, constitui o “resto”: os
seres com os quais se podem relacionar sem qualquer precaução. A esta crença
básica da religião, Durkheim introduz a concepção do ritual (procedimento pelo
qual a pessoa deve se conduzir na presença de objetos sagrados).
Para Durkheim, a dualidade sagrado-profana faz da religião uma realidade
intelectual e os rituais fazem dela uma força moral: uma entidade que define
limites entre o certo e o errado e os faz operar na medida em que recompensa
quem está certo e pune quem está errado. Trata-se de promover sentimentos de
fazer parte e de exclusão. Nesta perspectiva, indivíduos aderem a preceitos de
moralidade. Buscam a coletividade do grupo e a coesão deste deriva de sua força
moral – de sua capacidade de definir e implementar limites entre o certo e o
errado – mas, para as pessoas é difícil de entender diretamente, então elas
projetam em formas concretas, por exemplo, os totens. Portanto, a unidade das
pequenas sociedades tradicionais é assegurada pela existência de uma forte
consciência coletiva. A unidade dessas sociedades é devida ao fato de os seus
membros aderirem a crenças e a sentimentos comuns. Os ideais expressos nas
crenças religiosas são, pois, os ideais morais em que se baseia a unidade da
sociedade. Sempre que os indivíduos se juntam num ritual religioso, estão a
afirmar a sua fé na ordem moral de que depende a solidariedade mecânica dessa
sociedade. Os ritos positivos do ritual religioso contribuem, assim, para a
consolidação moral do grupo, contrabalançando o fato de os indivíduos
procurarem satisfazer nas atividades quotidianas da vida, no mundo profano, os
seus próprios interesses egoístas, o que os leva a alhear-se dos valores morais
em que assenta a solidariedade social.
Durkheim definiu a religião como um sistema solidário de crenças e de
práticas relativas a coisas sagradas, isto é, separadas, interditadas, crenças
e práticas que unem numa mesma comunidade moral, chamada igreja, todos os que
aderem a ela.
Durkheim em sua sociologia da religião teve certa ingenuidade de admitir
que o mesmo totem servisse para explicar todas as realidades, isto é, se as
ideias de sagrado, da alma e de deus (sinônimo de sociedade) explicassem
sociologicamente o caso dos australianos, poderiam estes extrapolarem todos
aqueles povos que manifestarem as mesmas ideias com as mesmas características
essenciais. Investigações etnográficas já têm revelado que há povos com clãs e
sem totens e povos com totens sem clãs. Ainda que o totemismo pudesse surgir do
instinto gregário, ele não pode ser provado nem tampouco pode demonstrar-se que
outras formas religiosas provêm do totemismo. E por último, a dicotomia entre
sagrado e profano não pode manter-se já que se dão no mesmo nível de
experiência e, em vez de estarem claramente diferenciados, estão tão
entrelaçados que resultam inseparáveis.
Obra
EDUCAÇÃO E SOCIOLOGIA, publicação 1922
Cada
sociedade alimenta certo ideal humano. A educação aparece como um amplo
processo socializador onde pais e educadores ensinam as crianças e adolescentes
com base num ideal compartilhado pela sociedade.
A educação
é uma ação exercida com a justificativa da manutenção da coesão social diante
da imaturidade que crianças e jovens carregam.
“A
sociedade não somente eleva o tipo humano à dignidade de modelo para o educador
reproduzir, como também o constrói, e o constrói de acordo com suas
necessidades. […] O homem que a educação deve realizar em nós não é o homem tal
como a natureza o criou, mas sim tal como a sociedade quer que ele seja.” (p.
107)
Duas
dimensões da consciência do indivíduo: os pensamentos individuais e o
pensamento coletivo, este último obviamente está ligado a um sistema de ideias,
sentimentos e hábitos que exprimem os grupos dos quais pertencemos; ambos
formam o que Durkheim chama de ser
social, que é o objetivo da educação.
“Ela tem
como objetivo suscitar e desenvolver na criança um certo número de estados
físicos, intelectuais e morais exigidas tanto pelo conjunto da sociedade
política quanto pelo meio específico ao qual ela está destinada em particular.
(p. 13)”
Com base
nessa análise, Durkheim estabelece uma diferenciação entre educação e pedagogia
e depois reivindica um lugar para a sociologia nos estudos sobre os fenômenos
educacionais. Na primeira critica estabelece a educação como ação exercidas
pelos pais e professores — portanto, algo geral e constante — e a pedagogia se
ocupa nas formulações teóricas que explicitam as maneiras de conceber a
educação, ou seja, se ocupa com os processos reflexivos que envolvem a
educação.
Para
Durkheim a pedagogia é rebelde, pois está sempre repensando suas ações.
Seguindo
este caminho Durkheim reforça o papel da Sociologia, pois se trata de um
papel “preponderante para
a determinação dos fins que a educação deve buscar” (p. 114).
Apenas a sociologia pode ajudar a compreender o fenômeno da educação, pois os
fenômenos educacionais estão relacionados com o sistema social e a dimensão
individual que a psicologia estuda indicam os mecanismos para readequar os
indivíduos aos processos mais amplos da vida social. Essa crítica direcionada a
psicologia aparece porque os estudos da época a relacionava com a pedagogia.
É
perceptível na argumentação de Émile Durkheim a sua perspectiva sociológica
sobre a sociedade. Pesa aqui uma estrutura que é anterior aos indivíduos e que
determina as formas de pensar, sentir e agir no convívio com a coletividade. O
Durkheim apresenta a educação como uma dimensão socializadora que coloca
crianças e jovens numa posição de passividade, como se esses não fossem
sujeitos que também influenciam o coletivo. A influência positivista, neste
sentido, retira a historicidade das coisas e as apresenta de maneira descritiva,
cristalizando assim uma essencialidade que não evidencia seu processo
construtivo.
Obra A EDUCAÇÃO MORAL, publicação 1922
O livro reúne lições
ministradas por Durkheim na Sorbonne, voltadas para a formação de professores.
Seu objetivo era pensar a educação
como fenômeno social, ressaltando seu papel na integração dos
indivíduos na sociedade moderna.
Durkheim entende a educação moral como
missão fundamental da escola moderna: transmitir disciplina, criar sentimento
de pertencimento coletivo e desenvolver autonomia. Assim, a educação garante
coesão social e cidadãos conscientes.
1.
A educação como fato social
Para
Durkheim, a educação não é apenas transmissão de conhecimentos individuais, mas
um processo de socialização
sistemática.
Ela molda
condutas, valores e hábitos de acordo com as necessidades da coletividade.
2.
Educação moral
A moral
não se reduz a regras abstratas ou religiosas: é uma forma de regular a vida em
sociedade.
A escola
deve transmitir os princípios morais fundamentais, garantindo a coesão social.
3.
Três elementos da educação moral
Disciplina: interiorização de
regras, limites e respeito à autoridade; cria a consciência da obrigação.
Adesão
ao grupo social: desenvolvimento do sentimento de pertencimento,
solidariedade e responsabilidade.
Autonomia
da vontade: o indivíduo deve compreender as regras e aceitá-las de
forma consciente, não apenas por imposição externa.
4.
Função da escola
A escola
ocupa lugar central, pois prepara os cidadãos para a vida social.
O
professor é visto como “representante moral da sociedade” diante dos alunos.
Durkheim
inaugura uma reflexão sociológica sobre a educação, mostrando que formar moralmente o indivíduo é condição
para a manutenção da ordem social.
Sua visão
reflete o contexto da Terceira República Francesa, marcada pelo esforço de
consolidar valores republicanos (laicidade, civismo, solidariedade).
A obra
mostra a tensão entre disciplina e liberdade, autoridade e autonomia, propondo
equilíbrio entre esses polos na formação moral.
Obra Sociologia e Filosofia, publicação 1929
Publicado em 1924, após
a morte de Durkheim, o livro reúne ensaios
e conferências em que o autor discute as relações entre a sociologia e a filosofia.
Ele defende a sociologia como ciência autônoma, mas que dialoga com a tradição
filosófica.
Essa obra
Marca o esforço de Durkheim em consolidar
a sociologia como disciplina científica, distinta da filosofia,
mas ainda em diálogo com ela. Reforça a visão de que os fatos sociais são realidades
objetivas que condicionam o indivíduo. Mostra a preocupação de
Durkheim em fundamentar
uma moral laica e racional, adequada à sociedade moderna.
Em Sociologia e Filosofia,
Durkheim afirma a autonomia da sociologia frente à filosofia, mas destaca o
diálogo entre ambas. A obra defende que moral, religião e consciência têm origem
social, não individual, e que a sociologia, ao estudá-los cientificamente,
contribui para repensar os fundamentos da vida coletiva.
1.
Autonomia da Sociologia
A
sociologia não é mera aplicação da filosofia; é uma ciência positiva, com
métodos próprios, dedicada ao estudo dos fatos
sociais.
Sua
função é explicar a vida social a partir de causas sociais, não por
especulações metafísicas.
2.
Crítica ao psicologismo e ao individualismo
Durkheim
combate a ideia de que a moral, a religião e a consciência se explicam apenas
pela psicologia individual.
Para ele,
esses fenômenos têm origem social e só podem ser entendidos em seu contexto
coletivo.
3.
Moral e religião como fenômenos sociais
A moral e
a religião não são ilusões ou construções subjetivas, mas realidades objetivas,
sustentadas pela vida coletiva.
A moral
fornece regras de conduta e a religião cria coesão social.
4.
Sociologia e Filosofia prática
A
sociologia contribui para a filosofia ao fornecer bases empíricas para a
reflexão ética e política.
A
filosofia, por sua vez, ajuda a sociologia a pensar os princípios e valores
universais que estruturam a vida social.
5.
Ciência e normatividade
Embora a
sociologia busque explicar objetivamente os fatos, ela também tem implicações
normativas: ao compreender a moral e a coesão, indica caminhos para a
organização social.
DEFINIÇÃO DE FATO SOCIAL
Durkheim define fato social como entidades reais,
autônomas, passíveis de constatação empírica e não redutíveis a qualquer outra
ordem de fatos, seja ela psicológica ou física. Os fatos sociais na acepção de
Durkheim podem ser captados de forma cristalizada nos modos de pensar, agir e
sentir que são regularmente adotados pelos indivíduos em sociedade. A
regularidade não é apenas interpretada como sintoma de objetividade mas,
principalmente, como resultante de uma pressão exterior (coerção) que as formas
coletivas de pensar, agir e sentir exercem sobre os indivíduos. Durkheim toma do
seguinte modo a caracterização dos fatos sociais:
Citação de Durkheim: “Quando desempenho minha obrigação
de irmão, esposo, ou cidadão, quando satisfaço os compromissos que contrai,
cumpro meus deveres que estão definidos para além de mim e dos meus atos, no
direito e nos costumes (...). Estamos pois em presença de modos de agir, de
pensar e de sentir que apresentam a notável propriedade de existir fora das consciências
individuais. Não somente estes tipos de conduta de pensamento são dotados dum
poder imperativo e coercivo em virtude do qual se lhe impõem quer ele queira
quer não”.
Assim, o fato social possui caráter de exterioridade
em relação às consciências individuais e exerce uma ação coercitiva sobre os
sujeitos. Durkheim afirma que isso pode ser verificado nas formas coletivas de
comportamentos. Para o autor, estas antecedem e prosseguem aos indivíduos,
provando portanto, sua existência e autonomia em relação a estes. A
coercitividade está presente no processo de socialização, ela ocorre porque o
fato social é geral e sobretudo, coletivo. É um estado do grupo que se repete
nos indivíduos porque se impõe a eles:
“Basta observar como são educadas as crianças.
Quando reparamos nos fatos tais como são, e como sempre foram, salta aos olhos
que toda educação consiste num esforço para impor à criança maneiras de ver, de
sentir e de agir às quais ela não teria chegado espontaneamente. Desde os primeiros
tempos da sua vida a coagimos a comer, a dormir e a beber a horas regulares.
Coagimo-la à limpeza, à calma, à obediência; mais tarde, coagimo-la a ter em
conta os outros, a respeitar os usos, as conveniências, a trabalhar, etc.”( Durkheim,
1978, p. 89).
Durkheim ainda coloca que, se com passar do tempo a
coação deixa de ser sentida pelo indivíduo, é devido ao nascimento de hábitos e
tendências internas que a tornam inútil. Os hábitos e os costumes são
realizados mecanicamente e então, passam a fazer parte da vida social sem
provocar maiores questionamentos nos indivíduos. Nesse sentido, o autor preocupa-se
em afirmar a existência real de uma espécie de consciência distinta das consciências
individuais e cujas manifestações podem ser captadas nas formas cristalizadas e
relativamente permanentes como: regras morais, preceitos jurídicos e religiosos
e nas correntes sociais ou, ainda nos movimentos menos consolidados e na base
material da vida social tais como tecnologia, formas de habitação, vias de
comunicação social, entre outros. A partir dessa verificação, Durkheim entende
a consciência coletiva como um conjunto de crenças e sentimentos comuns à média
dos indivíduos; tendo vida própria e difusa em toda sociedade. Esta forma de consciência
também pode ser verificada nos grandes rituais coletivos. Ele fala que numa grande
assembleia, as manifestações de entusiasmo, de indignação ou de piedade que se desencadeiam
não têm origem em nenhuma consciência particular.
Chega a cada um dos indivíduos do exterior e os
arrasta mesmo contra suas vontades. Se houver resistência por parte do
indivíduo, ele sentirá a pressão exercida pela consciência coletiva, se não, a
pressão existirá, mas ele será envolvido de tal forma que não a sentirá.
É desta entidade consubstanciada e isolada através
de fases ou frequência média de ocorrência de certos modos de comportamento
dentro do grupo que o autor extrai todos os elementos explicativos das
realidades encontradas já que ela atuaria como força de pressão sobre as
consciências individuais.
Assim Durkheim exclui qualquer possibilidade de que as
crenças, práticas e tendências de grupo tomadas coletivamente sejam
determinadas por fatores psíquicos, orgânicos ou físicos. Ele configura o
objeto de investigação específico da Sociologia.
A CONSTITUIÇÃO DO MÉTODO
Posterior à fase de determinação do fato social,
Durkheim anuncia, então, as regras metodológicas de tratamento deste objeto de
modo a obter sobre o mesmo um conhecimento que se aproxime de todos os
pressupostos positivistas que circundavam a ciência daquela época.
A regra que considera fundamental na observação dos
fatos sociais é tratá-los como coisas, pois este fenômenos são objetos e devem
ser tratados como tais. Segundo ele, para demonstrar esta proposição não é
necessário nenhum questionamento de natureza, basta constatar que são os únicos
dados oferecidos ao sociólogo: “
É objeto, com efeito, tudo o que é dado, tudo o que
se oferece, ou antes, se impõe à observação. Tratar dos fenômenos como coisas é
tratá-los na qualidade de data [grifo do autor] que constituem o ponto de
partida da ciência” (Durkheim, 1978, p. 100).
Isto significa considerá-los como exteriores aos
sujeitos, dados que só podem ser penetrados pela observação de suas
manifestações, pela descrição do que ocorre. Daí prescrever a suspensão de
todas as noções prévias:
“A nossa regra reclama do sociólogo que este adote o
estado de espírito em que se colocam os físicos, químicos ou fisiologistas,
quando se embrenham numa região ainda inexplorada do seu domínio científico. O
sociólogo, ao penetrar no mundo social, precisa ter consciência de que penetra
no desconhecido; é preciso que ele se sinta em presença de fatos cujas leis lhe
são tão insuspeitas como eram as da vida antes da biologia se ter constituído; é
preciso que esteja preparado para fazer descobertas que o surpreenderão e o
desconcertarão” (Durkheim, 1978, p. 77).
Durkheim separa a ideia de objeto (coisa), mas
admite que se a ideia é imposta pela observação do objeto ele se identifica com
o mesmo. Portanto, os conceitos científicos devem sempre ser construídos a
posteriori ao processo de investigação para garantir assim sua adequação à
natureza das coisas. O que Durkheim exige do sociólogo é uma atitude de
neutralidade face ao fato social (objeto de investigação) pois que apenas dele
poderá vir a explicação de sua natureza.
Desse modo, tratar os fatos sociais como exteriores aos
indivíduos e como coisa é ter para com eles uma atitude de afastamento porque
coisa é todo objeto de conhecimento que não é compenetrável, tudo aquilo de que
não podemos ter uma noção adequada por um simples procedimento de análise
mental, tudo o que o espírito só consegue compreender na condição de se
extroverter por meio de observações e de experimentações, passando
progressivamente dos caracteres mais externos e mais imediatamente acessíveis
aos menos visíveis e aos mais profundos.
Por isso Durkheim propõe a construção do objeto
positivo de pesquisa através da fixação de um conceito inicial do que irá ser
observado. Este conceito inicial tem por base o agrupamento ou classificação
dos fatos por seus sinais exteriores mais evidentes. Porém, a classificação,
será nesse caso, inteiramente determinada pelo objeto e, portanto, distinto da
classificação em que o sujeito pesquisador tem por referência, suas ideias.
A classificação preliminar dos fenômenos por suas
características mais externas é necessária à realização das observações que
permitem atingir as causas mais profundas e que explicam sua existência.
Os caracteres superficiais considerados não
acidentais devem ser para o sociólogo elos que possibilitam desvendar os
atributos fundamentais dos fatos sociais.
A DISTINÇÃO ENTRE O NORMAL
E O PATOLÓGICO
Como Durkheim acreditava que função da Sociologia
seria a de apontar soluções para a anomia presente na sociedade europeia, ele
faz um capítulo, no qual procura estabelecer as regras que permitem distinguir
o normal do patológico. Aqui ele quer conciliar o ideal de ciência pura com o
ideal pragmático, ou seja, a aplicação do conhecimento sociológico na
planificação da conduta dos homens tendo por objetivo atingir fins, por ele
considerados como desejáveis:
“A ciência é assim quase destituída de toda a eficácia
prática e, por conseguinte, perde a sua razão de ser; com efeito, qual o
sentido de tentarmos conhecer o real se esse conhecimento não tem qualquer
utilidade na vida? Poder-se-á argumentar que, ao revelar-nos as causas dos
fenômenos, a ciência nos fornece os meios para os produzirmos à nossa vontade e,
consequentemente, para realizar os fins que por razões supra científicas a
vontade humana pretende atingir” (Durkheim,1978, p. 110).
A partir dessa discussão, ele procura então,
descobrir e distinguir as diferenças entre normalidade e patologia no âmbito da
vida social. Assim, procura delimitar fronteiras entre o normal e o patológico
e como decorrente disso, as formas de conduta desejáveis e não desejáveis. Mas
para conseguir isso sem incorrer nos erros valorativos e, portanto, subjetivos,
propõe critérios que derivando da própria natureza do objeto preencheriam assim
o requisito de objetividade postulado pela versão positivista da ciência.
Neste intuito é que toma como critério de
normalidade o grau de generalidade de
ocorrência de um fenômeno em uma espécie social dada. O tipo normal ou tipo
médio poderia ser assim objetivamente construído pela computação dos caracteres
mais frequentes da espécie em sua forma habitual:
“1º - Um fato social é normal para um tipo social
determinado, considerado numa fase determinada de desenvolvimento, quando se produz
na média das sociedades desta espécie, consideradas numa fase correspondente de
desenvolvimento.
2º - Os resultados do método precedente podem verificar-se
mostrando que a generalidade do fenômeno está ligada às condições gerais da
vida coletiva do tipo social considerado.
3º - Esta verificação é necessária quando este fato
diz respeito a uma espécie social que ainda não cumpriu uma evolução integral”
(Durkheim, 1978, p. 118).
O critério de normalidade social é portanto relativo,
pois refere-se à regularidade de fenômenos não em abstrato mas considerando as
espécies sociais ou tipos de sociedade nos diferentes estágios de evolução em
que se encontram.
Durkheim ainda vai demonstrar que a generalidade que
permite identificar o normal, corresponde à própria natureza do fenômeno.
Isto é, não é ocasional mas se prende às condições gerais
da vida coletiva do tipo social considerado. Para Durkheim seria inexplicável
que certos caracteres se possam generalizar em uma espécie, caso não fossem
pelo menos em seu conjunto os mais vantajosos e produzissem nos indivíduos meios
de resistir melhor às causas da destruição. Aqui fica claro, o pressuposto evolucionista
da seleção natural, da permanência das formas superiores e eliminação das
inferiores como justificativa para a defesa do caráter de normalidade que
deseja estabelecer.
Para os casos da transição social, em que um aspecto
social não cumpriu sua evolução integral (3º caso), a verificação seria
indispensável pois poderia ocorrer que um fato fosse geral por ser herança de
um tipo social passado sem que correspondesse às exigências da situação atual. Neste
caso, mesmo sendo geral, o fato apenas teria aparência de normalidade.
Assim, explicando a generalidade por causa supostamente
natural, Durkheim supõe ter enquadrado o desejável em termos do que é
observável e portanto mantendo-se objetivo ao propor esquemas de ação que
permitam aos homens de Estado manter a normalidade social, restabelecendo-a
quando está perturbada pelo reencontro de suas condições de equilíbrio.
A CONSTITUIÇÃO DAS
ESPÉCIES SOCIAIS
Segundo Durkheim, para o historiador, as sociedades
constituem individualidades heterogêneas que se podem comparar. Cada povo tem
uma fisionomia específica, um direito, uma moral, uma organização econômica,
tornando impossível qualquer generalização. Por outro, ele identifica que a filosofia
considera a generalidade da espécie humana e seu caráter racional como
explicação para as diferentes sociedades e que isso é apenas provisório, pois o
que conta, é na verdade, o ser humano.
Para ele, o conceito de espécie social é bastante próximo
ao da Biologia pois resulta do agrupamento das unidades observadas, no caso das
sociedades, a partir das características estruturadas comuns que apresentam.
Considerando a espécie social como o resumo das unidades constatadas as
semelhanças, reconhece a impossibilidade de um levantamento de todos os casos
individuais para a constituição das espécies.
Diante da impossibilidade de fazer esse levantamento
morfológico individual, Durkheim toma a horda como o átomo social mais simples
de análise. A horda refere-se à sociedade que:
“Não abrange e que nunca abrangeu nenhum outro
agregado mais elementar e que se decompõe imediatamente em indivíduos. Estes
não formam no interior do grupo total grupos especiais e diferentes do precedente;
estão justapostos atomicamente” (Durkheim, 1978, p. 128).
Embora admitindo a inexistência histórica das
sociedades tipo horda, o autor vê nas sociedades clânicas uma repetição de hordas
justapostas, que por sua vez dariam origem às sociedade mais complexas até às
mais evoluídas como as urbanas e industriais:
“Quando a horda deixa assim de constituir uma sociedade
inteira para se tornar num segmento social, muda de nome, passa a chamar-se clã
(...). Clã é um agregado social que não se decompõe em nenhum outro mais
restrito ” (Durkheim, 1978, p. 128).
A partir dessa classificação preliminar, Durkheim
monta seu esquema de evolução das espécies sociais:
a) sociedades tribais: sociedade polissegmentária
simples – quando os clãs estão associados entre si de modo a formar grupos intermediários
entre cada um deles e o grupo global que abrange a todos; é a reunião de clãs
em forma de aldeias.
b) sociedade polissegmentária simplesmente composta
– reunião das sociedades precedentes.
3) sociedade polissegmentária duplamente composta – resultam
da imposição ou fusão de várias sociedades simplesmente compostas.
4) sociedade complexa – resultam da combinação de
diferentes espécies sociais; diferentes geradoras que ao combinarem dão origem
a uma sociedade totalmente nova.
Assim mesmo, não querendo chegar a uma classificação
completa de escala tipológica social, Durkheim enuncia o princípio de que a
espécie mais complexa resulta do processo de evolução do tipo que a antecede.
Depois de constituídos os tipos, pode-se distinguir
variedades em cada um deles, verificando até que ponto a composição primitiva
não afeta mais a organização administrativa e política da sociedade.
A EXPLICAÇÃO DO FATO
SOCIAL
Neste capítulo, Durkheim procura responder a origem
do fato social. Para ele, as funções do fato social não explicam sua origem.
August Comte havia dito que sua origem está na força progressiva da humanidade
que incita diretamente o homem a melhorar continuamente sob todos os aspectos a
situação em que se encontra. Mas isso só caracteriza o fato, mas não explica
seu nascimento e nem sua aparência. Portanto, para Durkheim, quando se busca a explicação
de um fenômeno social, tem-se de investigar separadamente a causa eficiente que
o produz e a função que desempenha: Para despertar o espírito de família onde
este se revela mais fraco, não basta que todos compreendam as vantagens de tal necessidade;
é necessário fazer atuar as suas causas, pois só elas o podem produzir ” (Durkheim,
1978, p. 133).
Assim, quanto à origem do fato social, Durkheim o explica
mediante o arcabouço teórico-metodológico das ciências da natureza. Busca na
Biologia as razões e os fundamentos de sua tese. Segundo ele, a vida ou fato
social não poderiam vir do mero desenvolvimento natural da humanidade e nem do
indivíduo em si, pois uma vez formado, o fato social reagiria contra este
indivíduo. Logo, o fato social tem uma natureza própria e impõe maneiras de
pensar, agir e sentir as consciências individuais. A sociedade é comparada por
Durkheim à água. A água é formada por dois gases que, ao combinarem, dão origem
a um elemento com uma qualidade diferente dos posteriores, portanto a
sociedade, não pode ser vista como uma tendência natural do homem, nem como
somatória das consciências individuais, mas como combinação de pessoas e de coisas,
que ao se combinarem, produzem um ser diferente e superior, com uma nova
qualidade: a sociedade.
AS REGRAS PARA ADMINISTRAÇÃO DA PROVA
Neste capítulo, Durkheim estabelece o método para
demonstrar empiricamente a relação de causalidade entre os fatos sociais.
Em termos empíricos a relação de causalidade entre
dois fenômenos reduz-se à constatação de que a presença de uma causa condiciona
a ocorrência do efeito, do que decorre a exigência de observações comparativas
entre a forma como os fenômenos reagem entre si.
Evidentemente, Durkheim sabe que o método
experimental é totalmente inviável para a Sociologia, restando-lhe apenas a
possibilidade de aplicação do método comparativo ou mais especificamente das
variações concomitantes: “Vimos que a explicação sociológica consiste
exclusivamente no estabelecimento de relações de causalidade, quer se trate de confrontar
um fenômeno com sua causa, ou uma causa com os seus efeitos úteis. Como os
fenômenos sociais escapam evidentemente à ação do operador, o método
comparativo é o único que convém à Sociologia” (DURKHEIM, 1978, p. 150).
Isto significa que a lei de causalidade seria
demonstrada na constatação de que dois fenômenos variam regularmente em uma determinada
direção. Ele a firma que isso pode ser verificado quando há paralelismos dos
valores de dois fenômenos, desde que efetuados num número repetido de casos variados.
É a prova de finitiva de que existe uma relação entre eles; que os fenômenos
têm naturezas semelhantes; que um fenômeno não é causa do outro e que ambos são
efeitos de uma mesma causa ou que pode existir entre eles, um terceiro
fenômeno.
Durkheim usa como exemplo seu estudo sobre o
suicídio. Segundo ele, pode-se afirmar que a tendência para o suicídio varia
conforme a tendência para a instrução. Nesse caso, a instrução levaria o
indivíduo ao suicídio, tese a qual ele refuta, dizendo que a instrução por
maior que seja não pode contrariar um princípio fundamental que é o de
conservação da espécie, portanto, tanto o suicídio como a instrução seriam dois
fenômenos causados e a causa seria o enfraquecimento do tradicionalismo
religioso, aparecendo aí o terceiro fenômeno. É como dizer “menos religião,
maior necessidade do saber, maior tendência para o suicídio” (DURKHEIM, 1978,
p. 153).
Nesse sentido, as manifestações empíricas expressam
a natureza da coisa, se há correlação na forma como dois fenômenos se
desenvolvem empiricamente, isto significa que suas naturezas estão também
conectadas, ou seja, um depende do outro.
Este método aplicado à Sociologia supre a ausência
de outros métodos dada a imensa variedade dos fatos sociais possíveis de
comparação, além de oferecer a vantagem de prescindir de um número ilimitado de
casos para que se chegue às leis ou generalizações: “O método das variações concomitantes
não nos obriga a enumerações incompletas nem a observações superficiais. Para que
dê resultados bastam alguns fatos. A partir do momento que se provou que, num determinado
número de casos, dois fenômenos variam da mesma forma, podemos ter certeza de estarmos
perante uma lei” (DURKHEIM, 1978, p. 154).
Entretanto, Durkheim salienta que o método só produz
resultados, se aplicado com rigor, isto é, de forma a demonstrar as variações
de dois fenômenos em uma sequência regular e contínua de seu desenvolvimento
tomando-se, para tanto, um número razoável de dados. O modo de construir as
séries estatísticas varia segundo os fenômenos que se pretende analisar,
podendo os dados serem extraídos de uma única sociedade, de muitas sociedades
da mesa espécie ou de espécies sociais distintas. Na análise de As regras do
método sociológico fica evidenciada a orientação positivista e cientificista
presente em Durkheim, quando na ênfase de produzir um conhecimento sociológico
científico tendo por critério de cientificidade a objetividade que pretende ser
atingida. O seu método é, em todas as etapas, marcado pelo esforço de mostrar
tal possibilidade: quando empresta o caráter de coisa aos fatos sociais; na
ênfase à classificação e ordenação dos dados para extrair daí a revelação da
sua natureza; na crença de se construir indutivamente o corpo teórico; na ânsia
pelo conhecimento absoluto expresso em leis de causalidade que seriam
verdadeiras já que não são construções arbitrárias de uma lógica subjetiva de
relações naturais registradas pelo pesquisador.
REFERÊNCIAS
ARON, Raymond. As etapas do pensamento sociológico.
São Paulo: Martins Fontes. Brasília: UnB, 1987.
DURKHEIM,
Émile. O Suicídio: Um Estudo de Sociologia.
DURKHEIM, Émile. As Formas Elementares da Vida
Religiosa. São Paulo: Abril Cultural, 1978.
(Coleção Os pensadores).
DURKHEIM, Émile. A Educação e a Sociologia. São Paulo: Editora Martins Fontes, 1996.
DURKHEIM, Émile. A Educação Moral. Rio de. Janeiro: Vozes, 2008.
DURKHEIM, Émile. Sociologia e Filosofia. Rio de Janeiro: Forense, 1970
DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. São
Paulo: Abril Cultural, 1978. (Coleção Os pensadores).
DURKHEIM, Émile. Da divisão do trabalho social. São Paulo:
Abril Cultural, 1978. (Coleção Os Pensadores).
MARTINS, Carlos B. O que é sociologia. São Paulo:
Brasiliense, 1986.
SMELSER, Neil; WARNER, Stephen. Teoria sociológica.
Madrid: Espasa-Calpe, 1982.
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